sábado

A Politica e os Principes deste Mundo




"A Grande Batalha no Céu" - Daniel Mitsui


Por Pe Stephen Freeman

O décimo capítulo de Daniel registra a visão final do profeta, que contém uma história muito interessante: 

No dia vinte e quatro do primeiro mês, estava eu à borda do grande rio, o Tigre; levantei os meus olhos, e olhei, e eis um homem vestido de linho e os seus lombos cingidos com ouro fino de Ufaz; o seu corpo era como o berilo, e o seu rosto como um relâmpago; os seus olhos eram como tochas de fogo, e os seus braços e os seus pés como o brilho de bronze polido; e a voz das suas palavras como a voz duma multidão. Ora, só eu, Daniel, vi aquela visão; pois os homens que estavam comigo não a viram: não obstante, caiu sobre eles um grande temor, e fugiram para se esconder. Fiquei pois eu só a contemplar a grande visão, e não ficou força em mim; desfigurou-se a feição do meu rosto, e não retive força alguma. Contudo, ouvi a voz das suas palavras; e, ouvindo o som das suas palavras, eu caí num profundo sono, com o rosto em terra. E eis que uma mão me tocou, e fez com que me levantasse, tremendo, sobre os meus joelhos e sobre as palmas das minhas mãos. E me disse: Daniel, homem muito amado, entende as palavras que te vou dizer, e levanta-te sobre os teus pés; pois agora te sou enviado. Ao falar ele comigo esta palavra, pus-me em pé tremendo. Então me disse: Não temas, Daniel; porque desde o primeiro dia em que aplicaste o teu coração a compreender e a humilhar-te perante o teu Deus, são ouvidas as tuas palavras, e por causa das tuas palavras eu vim. Mas o príncipe do reino da Pérsia me resistiu por vinte e um dias; e eis que Miguel, um dos primeiros príncipes, veio para ajudar-me, e eu o deixei ali com os reis da Pérsia. Agora vim, para fazer-te entender o que há de suceder ao teu povo nos derradeiros dias; pois a visão se refere a dias ainda distantes.(Daniel 10:4-14) 

Claramente é um mensageiro celestial que fala a Daniel (que é provavelmente o Arcanjo Gabriel, baseado nas visões anteriores de Daniel). Estranhamente, o anjo teve dificuldade em chegar a Daniel e foi atrasado em sua jornada (por 21 dias). Ele explica a razão do atraso: “o príncipe do reino da Pérsia me resistiu…”. Esse “príncipe” não é uma referência a nenhum ser terreno. Não é uma figura política da Pérsia. É, ao invés disso, uma figura espiritual, na linha de um anjo, que lutou contra o mensageiro e tentou impedi-lo de alcançar Daniel. 
  
E a história fica mais interessante. O anjo atrasado recebe ajuda. Miguel, "um dos principais príncipes", veio ajudar na batalha. Com sua ajuda, o mensageiro consegue completar sua tarefa. 
  
Daniel está nos dando uma descrição de uma batalha “nos bastidores”, que acompanhou sua oração. Também nos aponta para um papel desempenhado pelo que o Novo Testamento descreve como “principados e potestades”. Em um nível humano, vemos as nações como entidades políticas. Em Daniel, são apenas reflexos de realidades espirituais, nem todas amigáveis ou aliadas a Deus. Este aspecto das coisas é trazido, para um alívio ainda maior, quando lemos um pouco mais tarde: 
  
Então ele [o mensageiro angélico] disse: “E ele disse: Sabes por que eu vim a ti? Agora, pois, tornarei a pelejar contra o príncipe dos persas; e, saindo eu, eis que virá o príncipe da Grécia. 
Mas eu te declararei o que está registrado na escritura da verdade; e ninguém há que me anime contra aqueles, senão Miguel, vosso príncipe".(Daniel 10:20,21) 
  
O anjo está descrevendo uma grande batalha acontecendo. Ele está lutando com o "príncipe" da Pérsia, mas diz que o "príncipe da Grécia" virá. Na história, isso ocorre uns duzentos anos após a conversa com Daniel. A reflexão terrena desta batalha é cumprida na vinda de Alexandre, o Grande, que conquista a Pérsia. Mas esta conversa sugere que a verdadeira luta já havia começado no nível dos céus. Ele também observa que a única ajuda que ele está recebendo nessa luta cósmica vem de "Miguel, seu príncipe". 
  
São Paulo, em sua carta aos Efésios, diz: 
  
"Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.(Efésios 6:12)" 
  
Ele também faz uma alusão a este aspecto da realidade em 1 Cor .: 
  
"Todavia falamos sabedoria entre os perfeitos; não, porém, a sabedoria deste mundo, nem dos príncipes deste mundo, que se aniquilam; 
Mas falamos a sabedoria de Deus, oculta em mistério, a qual Deus ordenou antes dos séculos para nossa glória; 
A qual nenhum dos príncipes deste mundo conheceu; porque, se a conhecessem, nunca crucificariam ao Senhor da glória".(1 Coríntios 2:6-8) 
  
"Príncipes" aqui não significa nada terrestre. São os poderes demoníacos que crucificaram o Senhor da glória. 
  
É digno de nota, para mim, a conexão entre as entidades políticas e os principados. São Miguel é o “Capitão do Exército do Senhor” e é descrito como “seu príncipe”, que significa “o santo protetor de Israel”. A Igreja Ortodoxa o chama de “Capitão-Chefe dos Exércitos Incorpóreos”. 
  
O mundo moderno atraiu profundamente suas populações para a matriz da existência política. Antes da ascensão dos estados-nação no século XVIII, o mundo era geralmente dividido entre várias monarquias. Territórios e povos freqüentemente mudavam (e a vida continuava com orações por alívio fiscal e justiça). Só de vez em quando, uma população seria atraída para a febre da identidade étnica e lealdade a um governante. Exércitos eram frequentemente mercenários contratados. Estados- Nação, descritos como democracias, tornaram a noção política de uma nação idêntica às pessoas que vivem naquela nação. Dizem-nos que “nós” somos o governo e que o exército (etc.) luta por “nós”. 
  
Se nos afastarmos por um momento e olharmos para o nosso mundo a partir da perspectiva mostrada em Daniel, entenderemos que o “nós” na vida de uma nação, inclui algo “fora do mundo” também. Há algo não tão agradável por trás das maquinações dos poderes “terrestres”. A natureza exata de seu papel não nos é dada, mas permanece. 

Um autor, explorando este tópico, comparou os principados e potestades (deste mundo) com as “vestes de pele” em Gênesis. Os pais muitas vezes viram nessas vestes, uma expressão do arranjo provisório de Deus em nossa vida. O homem e a mulher foram expulsos do paraíso, mas ainda precisam de proteção neste mundo. A cobertura que eles recebem é o produto de um assassinato. Não é a cobertura pela qual ansiamos (a justiça de Cristo, às vezes chamada de “vestes de luz”). Entre as vestes de pele estão os arranjos civis do nosso mundo. As leis nos protegem (ou deveriam), mas não podem nos salvar, nos tornar pessoas melhores ou levar adiante o Reino de Deus. Elas são úteis, mas carecem de bondade verdadeira. Como tal, elas são, mais ou menos, "males necessários" ou, na melhor das hipóteses, "coisas não tão boas, quanto as boas". 
  
Este aspecto “dominante” dos principados e potestades é claramente uma parte da compreensão do mundo do Novo Testamento. Cristo diz a Pôncio Pilatos que ele não teria poder sobre Ele, se este poder não tivesse sido dado a ele "de cima". Mas, Paulo esclarece isso. Os "poderes" que atuam em e através de Pilatos, não são os imperadores em Roma. Eles são os "príncipes deste mundo". Eles claramente têm seus limites. Sua escuridão pode às vezes descer em nosso meio e revelar quão profano são em suas intenções. Eles amam assassinato. Onde a morte é desenfreada, você pode ter certeza da presença deles. Se o mal da Alemanha de Hitler parece mais do que humano, você está certo. Foi demoníaco. O príncipe da Alemanha desencadeou o inferno na terra. 
  
Há um caráter para esses príncipes, e eles parecem até guerrear entre si (por razões que não sabemos ou entendemos). São Paulo observa que nós mesmos temos um papel nessa guerra. Nossa guerra não é a forma terrena, que aparece no reino meramente político. Nossa verdadeira guerra é interceder, como Daniel fez, através de todos os meios dados a nós. 
  
Um insight importante dentro de tudo isso, é que o que nós vemos não é a extensão total da história. A história humana não é inteiramente humana. Quando Pilatos questiona Cristo, ele supõe que ele é um ator fundamental em um drama humano. Mas o verdadeiro drama está em ação nos céus. Todo o cosmos envolve o que acontece no Gólgota. Nossas vidas diárias não estão menos interligadas nos negócios dos céus. 
  
Isso desmascara a loucura do pensamento moderno. Reduzimos nosso mundo ao meramente secular, presumindo que nós mesmos somos a força motriz da história e que o resultado das coisas está em nossas mãos. A Igreja, no entanto, tem sua “cidadania” no céu (Filipenses 3:20). Ações que parecem estar fora do caminho à luz da história secular, têm mais a ver com a realidade do que se imagina. A oferenda do Sacrifício Incruento no altar, até mesmo na menor congregação, carrega um peso eterno no céu, mais do que todos os votos dos homens. O resultado da história em Sodoma e Gomorra voltou-se para a possível presença de apenas dez pessoas justas. 
  
Devemos nos lembrar de viver vidas que importam. Orar. Perdoar. Arrepender-se. Interceder. Confessar. Comungar. O Senhor sustenta o universo através das orações dos fiéis. 


ARTE "A Batalha no Céu": DANIEL MITSUI. Pintor conhecido por confeccionar passagens bíblicas, anjos e santos em traços orientais. 

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