terça-feira

Por Que os Cristãos Não se Arrependem nos Dias de Hoje? - Arquimandrita Gregórios (Estephan)




Arquimandrita Gregorios(Estephan) – Hegúmeno do Mosteiro da Dormição da Mãe de Deus - Bkefitine


Por que as nações se desintegram e novas nações surgem? Por que muitas nações cristãs desapareceram, sendo substituídas por nações pagãs? Nos últimos tempos, quando o mundo inteiro conspirar contra o Senhor e Seu Cristo, o cristianismo lutará pela sobrevivência. Isso exigirá a adesão à Verdadeira Fé em Jesus Cristo.


Por que Deus está abandonando Seu povo? Talvez porque Ele seja um Deus vingativo? Certamente que não! Pelo contrário, Ele é o Deus perfeito que deseja filhos perfeitos, que anseiam por alcançar a perfeição; filhos que guardam fielmente Seus mandamentos e se apegam à fé que foi colocada em suas mãos. Nosso Deus quer apenas uma coisa de Seu povo: fidelidade. Ou seja, Ele deseja que eles O obedeçam com fé e não mintam para Ele; que não finjam devoção enquanto vivem em pecado; que não falem sobre abnegação enquanto vivem egoisticamente com desejo de poder e vanglória; que não se orgulhem da Ortodoxia enquanto a traem em seus diálogos.


O Senhor pede que Seu povo seja fiel a Ele, e somente uma coisa preserva essa fidelidade na alma humana: o arrependimento. O arrependimento é o retorno incessante a Deus. Seus sinais são um espírito contrito e humilde, que abandonou todas as coisas terrenas e busca a misericórdia de Deus com toda a sua mente. Quando o povo se afasta de Deus, Ele o disciplina, não como um ato de vingança, mas para torná-lo consciente de seu pecado, para que possa se arrepender. Desde os tempos do Antigo Testamento, Deus tem dito ao Seu povo: Convertei-vos, agora, cada um do seu mau caminho, e fazei boas as vossas ações, e não sigais a outros deuses para servi-los (Jer. 35:15).


O cristão vai atrás de outros deuses de duas maneiras: quando aceita a heresia como verdade e quando segue o espírito do mundo e se rende à sua maneira de pensar.


Deus sempre desejou que tivéssemos uma fé pura nEle - a fé saudável que Ele revelou ao Seu povo e que leva à salvação. Entretanto, alguns distorceram essa fé e brincaram com ela. O surgimento de heresias e inovações dogmáticas está fortemente relacionado às paixões humanas corruptas, especialmente o orgulho. Desse orgulho maldito e da desobediência surgiram todas essas chamadas "igrejas". As paixões cheias de maldade e arrogância, como o orgulho - que se alimenta do amor-próprio - e as paixões de desejo de poder e vanglória, que são infladas pelo amor às coisas terrenas e obscurecem totalmente a alma, fazendo com que ela interprete os dogmas da fé pelas lentes de sua própria vontade e pensamentos. Essa escuridão espiritual afasta a alma do espírito de contrição e arrependimento. É exatamente por esse motivo que Deus despreza a heresia e a condena, chamando-a de blasfêmia imperdoável contra o Espírito Santo. Ela é uma reminiscência do orgulho primordial que desfigurou o caminho da salvação; ela também impede que a alma se arrependa e seja salva.


O espírito do mundo enfraqueceu a vontade do homem e dispersou sua mente, tornando-o incapaz de se lembrar de Deus no coração. Esse espírito substituiu os valores e as virtudes que eram usados para educar as crianças (como o autocontrole) por vícios (como a entrega a paixões imundas e a obediência aos desejos do corpo e às tendências animalescas). Esses vícios se tornaram deuses para o homem, substituindo o único Deus verdadeiro. Quando o homem adota o espírito da era moderna e permite que ele domine seu pensamento, sua vontade é despedaçada e sua mente fica paralisada: ele deixa de estar atento à Verdade e é incapaz de adquirir o espírito de arrependimento.


Em toda Escritura, Cristo insistiu em separar o espírito do mundo do Espírito de Deus. O espírito do mundo semeia o desdém pela Verdade eterna e suas coisas sagradas, enquanto incita subliminarmente o pecado e o ateísmo na mente do homem. Portanto, aqueles que se esforçam para modernizar a Igreja, seu phronema (mentalidade) e sua práxis (modo de vida), são os primeiros inimigos de Cristo, pois misturam a verdade com a ilusão, que Cristo se esforçou para separar.


A própria Igreja, que possui esse profundo senso da Verdade Divina transmitida ao longo de sua história, tem se rendido ao espírito do mundo ultimamente. Quantos, mesmo entre os fiéis, estão incentivando a adoção das reformas doutrinárias e morais produzidas pelo espírito do mundo! Pessoas como essas não reconhecem a existência de heresias, inovações ou mesmo demônios, nem acreditam em uma Igreja ou mesmo em um Deus.


Quem afirma que a Verdade é encontrada em todos os lugares, mesmo fora do cristianismo, está realmente cego, amortecido para a Verdade; ele se tornou um instrumento adúltero para o demônio da ilusão. Como esse homem pode se arrepender? Quando o senso da Verdade única morre em nós, o próprio Deus morre em nós.


O arrependimento requer muita humildade, para que o homem possa estar ciente de sua pecaminosidade e contemplar a Verdade Divina. É por isso que São João Clímaco diz que é impossível encontrar humildade nos hereges: Toda heresia, mínima ou flagrante, é fruto do orgulho e da arrogância demoníaca. O principal perigo do movimento ecumênico moderno é que ele reforça na alma humana o orgulho e as convicções, em vez de incentivá-la a se arrepender e buscar a verdade. O dom da verdade é concedido pelo Deus da Verdade aos penitentes que abandonam sua vontade própria e seus próprios pensamentos e buscam a Verdadeira Fé com oração incessante.


A Igreja não mente. Em vez disso, os mentirosos são aqueles que tentam misturar a verdade com a falsidade, justificando suas violações da fé. Os orgulhosos não se arrependem, não importa quão louváveis sejam suas ações terrenas ou quão grande seja sua benevolência, porque eles glorificam a si mesmos, e não a Deus. Quanto aos humildes, eles se arrependem porque se conhecem verdadeiramente e se entregam incondicionalmente a Cristo pela fé. O grande pecado do homem não está na transgressão de um único mandamento, mas em seu orgulho e insubordinação à Igreja e a seus ensinamentos verdadeiros.


Nem todas as pessoas orgulhosas são hereges, mas é possível que todos os hereges sejam orgulhosos. O Senhor não permite que os humildes se afundem na ilusão ou sofram a condenação eterna, mas fornece a eles os meios para conhecer a verdade e permanecer firmes nela. Todas as heresias ao longo da história e todos os ensinamentos opostos àqueles transmitidos à única Igreja não passam de uma aniquilação do Deus verdadeiro, substituindo-O por um falso. E que comunhão pode existir entre Cristo e esses falsos deuses demoníacos? Quando o nosso Cristo retornar à Terra, Ele encontrará uma infinidade de "igrejas", falsamente assim chamadas, que possuem uma fé desonesta, por isso Ele pergunta: Porventura [o Filho do homem] achará fé na terra? (Lc. 18:8) Isso se deve ao fato de que uma fé desfigurada e distorcida não é fé alguma. Uma fé fora da Igreja Una e Apostólica nunca pode levar a um conhecimento vivo do Deus Vivo e Verdadeiro.


Deus se afastou de Seu povo nestes últimos tempos; Ele está se afastando de Seu rebanho, que pastoreou, fortaleceu e multiplicou no passado, mesmo nas eras mais sombrias de perseguição e tirania dos obreiros do diabo. Nossa terra está se tornando desprovida de Cristo e de Seus verdadeiros ungidos; esta terra, cujo solo era santificado pela adoração incessante do Senhor e de Seu Cristo, tornou-se a terra da apostasia. Por quê? Porque as pessoas abandonaram a fé de seus antepassados e a simplicidade da vida de piedade. Eles pensaram que a sobrevivência nesta terra dependia de fazer alianças com os deuses de nações estrangeiras, em vez de se apegarem à Verdadeira Fé.


Esse povo pecou diante de Deus. Eles estão se fundindo gradualmente ao espírito do mundo e ao da globalização e não querem se arrepender. Onde estão os líderes da Igreja que estão se arrependendo de todas essas transgressões? Arrependendo-se por si mesmos e por seu povo? Onde estão aqueles que usam pano de saco e acrescentam jejuns sobre jejuns para serem um exemplo para seu povo em arrependimento, santidade e Ortodoxia? Os hereges - descendentes de Balaão - profetizam para nosso povo e o afogam ainda mais nas ilusões que estão por vir, enquanto os líderes permanecem em silêncio.


"E já ninguém há que invoque o teu nome, que se desperte, e te detenhas; porque escondes de nós o teu rosto, e nos fazes derreter, por causa das nossas iniquidades..." Não te ires demais, ó Senhor! Não te lembres constantemente das nossas maldades. Olha para nós! Somos o teu povo!
As tuas cidades sagradas transformaram-se em deserto. Até Sião virou um deserto, e Jerusalém, uma desolação! O nosso templo santo e glorioso, onde os nossos antepassados te louvavam, foi destruído pelo fogo, e tudo o que nos era precioso está em ruínas; e depois disso tudo, Senhor, ainda irás te conter? Ficarás calado e nos castigarás além da conta? (Is. 64:7, 9-12)

Tornai-vos para mim, e eu me tornarei para vós, diz o Senhor dos Exércitos (Malaquias 3:7, Zacarias 1:3). O arrependimento genuíno, que nos inspira a chorar por nossos pecados, é sempre um sinal de firmeza inabalável na Verdadeira Fé; somente o arrependimento é capaz de nos tornar uma descendência abençoada que Deus multiplicará.