quarta-feira

"Quem são os Santos" - Arquimandrita Gregórios (Estephan)

 

QUEM SÃO OS SANTOS?






Por Arquimandrita Gregorios(Estephan) - Abade do Mosteiro da Dormição da Mãe de Deus - Bkefitine

 

Existe uma união sagrada entre os santos e o dia do Pentecostes. Pois os santos são aqueles sobre os quais a Graça do Pentecostes foi derramada, e por meio dos quais a Graça do Pentecostes continua ativa no mundo. Eles se tornam sacramentos vivos em Jesus Cristo; eles extraem toda Graça e verdade dos sacramentos da Igreja. A verdade Divina foi armazenada intimamente nas profundezas dos corações dos santos, gerando a teologia do conhecimento vivo de Deus. É assim que os santos, os portadores do Pentecostes, nascem. A imagem e semelhança Divinas são restauradas apenas neste nível de santidade. É por isso que Cristo nos ordenou: Sede santos; pois eu sou santo.

A virtude característica dos santos é sua busca incessante da perfeição Divina, tanto quanto eles são capazes. Eles não alcançaram este nível de perfeição Divina devido à sua perfeição moral ou social, mas Graças à sua transfiguração incessante em direção a perfeição; a transfiguração do nous e do coração por meio de um ato de eros* incessante ​em direção ao verdadeiro Cristo. Pelo amor de Cristo, eles abandonaram este mundo, todos os apegos mundanos e prazeres corporais, e realizaram uma jornada incessante para o Reino Celestial. Eles subjugaram seus corpos por meio do ascetismo e da abnegação, a fim de submetê-los ao espírito.

Os santos sabiam que a santidade é produzida através dessa atenção em guardar os mandamentos de Cristo - todos os mandamentos, mesmo os menores. Mas é impossível guardar os mandamentos antes de controlar as paixões. É por isso que (os santos) amavam o ascetismo - o jejum severo e as muitas prostrações, a oração focada, derramando lágrimas, e as vigílias incansáveis, com muita perseverança e humildade contínua. Santo Efraim, o Sírio, enfatiza a ação da Graça nas almas dos que lutam, dizendo: “Deus planta Suas sementes em corpos ascéticos”. Nosso santo então passa a dizer que sem luta e trabalho, “ninguém será coroado, nem nesta vida nem na próxima”. É impossível alcançar a santidade sem ascetismo, porque é este ascetismo que subjuga as paixões do amor próprio e as transforma no amor de Cristo. A perfeição dos santos, que não encontra um fim, é o amor de Cristo.

Os santos são aqueles que nasceram novamente, do arrependimento e do espírito. A jornada de um santo é a jornada de um penitente, que pode ter começado com todos os tipos de pecados, paixões e heresias. Os santos são aqueles que conheceram sua fraqueza espiritual e pobreza e assim entregaram suas vidas a Cristo em incessante arrependimento. Eles não se desesperaram por causa da multidão de aflições, demônios, tentações e quedas, mas por conta de sua fraqueza, eles receberam muita humildade, permitindo-lhes se levantar contra o pecado e resistir até a morte.

Sua forte resistência atraiu muita Graça; curou sua dureza de coração e ensinou-lhes a oração incessante. O que caracteriza os santos é que eles não notam suas virtudes, mas sentem profundamente seus pecados e sua necessidade de misericórdia Divina. Isso lhes concede arrependimento e luto por seus pecados, sabendo que são dignos do inferno e de toda condenação. Este é o mistério da ação da Graça na humildade dos santos. O arrependimento dos santos não cessa - eles se arrependem e não se desesperam, sabendo que seus pecados são perdoados pelo arrependimento; mas eles também sabem que se o arrependimento cessar, seus pecados voltarão, mais malignos do eram antes.

Com respeito à fé, os santos se recusam a se conformar com o espírito dos tempos (mundanismo) e lutam contra suas influências. Eles enfrentaram fortemente as heresias - todos os tipos de heresias - sabendo que estas carregavam o espírito de Satanás. A heresia é incompatível com a santidade; e as novas heresias têm várias faces: ecumenismo, sincretismo, modernismo, etc. Elas estão todas em conflito com a santidade. Aqueles que se entregam a este globalismo religioso, ao espírito dos tempos e aos esforços para renovar a vida da Igreja de acordo com os ditames da vida moderna, não podem ser santificados. Como pode ser santificado aquele que distorce a fé pura dos santos e a mistura com um ensinamento vindo do demônio da contradição e do intelecto orgulhoso?

Aqueles que colocam obstáculos aos fiéis, que fazem os filhos de Deus duvidarem dos Sacramentos e dos objetos sagrados, pois eles próprios duvidam da santa luz da Ressurreição e da Graça contida nas sagradas relíquias, rendem-se ao espírito da ilusão. O princípio do amor ao próximo é tirar-lhes as dúvidas e os obstáculos do seu caminho de salvação, através da firmeza na fé e pelo seu crescimento na esperança. Os santos desprezaram erguer barreiras, ensinando que isso traz grande condenação.

Os santos não são feitos por uma infinidade de teorias, orgulho e arrogância, mas através da submissão dos pensamentos e vontades a Cristo e Sua Igreja. Os santos nascem do cânone da fé Ortodoxa, que é a lei da vida eterna. Os santos são fruto da obediência à fé Ortodoxa, fruto da entrega de sua própria vontade à experiência comunitária que é, antes de mais nada, formada pela força da fé, depois pelo trabalho, jejuns e orações. Os santos nascem da Tradição da Igreja, da submissão de todos os seus pensamentos à Tradição da Igreja.

Os santos compreenderam que a obediência esvazia a alma de seu egoísmo e da confiança em seus próprios conceitos, de modo que ele se submete de bom grado à mente da santa Igreja, aos seus dogmas e aos seus cânones. Assim, a experiência dos santos continua completa e perfeita, imutável de século em século, por meio da obediência à fé Ortodoxa. Somente aquelas almas que, pela fé e obediência, uniram sua vontade à vontade de Deus, podem ser santificadas e santificar, ser iluminadas e iluminar, e estabelecer firmemente a Igreja na jornada de seus santos.

É assim que a Igreja se torna criadora de santos; do contrário, perderia o sentido de sua existência. Não foi esse o propósito pelo qual o Filho de Deus veio ao mundo? Uma igreja que não produz ascetas e santos, que passaram da fé intelectual para a experiência da revelação divina, facilmente se torna uma igreja de leis e moralismo, uma igreja mundana desprovida de espírito, caminhando livremente para a extinção e a destruição. Os santos são produtos da Graça divina, que está exclusivamente associada à fé verdadeira e correta. E fora desta verdade, não existe Graça nem santidade.

É por isso que a Igreja Ortodoxa não reconhece os santos de foranão há santos não ortodoxos. Este julgamento não é extremista, pois no que diz respeito à Igreja Ortodoxa, a santidade não é estabelecida por estados psicológico-emocionais, por uma vida moral louvável, ou por um ministério social distinto, como é o critério dos não ortodoxos. Antes, é uma participação existencial na fé correta e na Luz Incriada de Deus, após a completa libertação das paixões. Pois, sem a Graça, o homem não só é incapaz de ser santificado, mas também incapaz de apresentar uma obra agradável diante de Deus. É por isso que Santo Efraim, o Sírio, ordena que não tenhamos comunhão com os hereges - porque eles não têm boas obras, visto que se afastaram da Graça divina como consequência de seu afastamento da fé correta.

Todos aqueles que lutaram pela fé Ortodoxa ao longo da história, que “trabalharam e ensinaram”, foram santificados. Na era de apostasia, que prevalecerá nos últimos dias, muitos se tornarão obstinados; eles não apenas se conformarão e apostatarão da verdade, mas também perseguirão aqueles que se apegam a essa verdade. Não serão muitos aqueles que aceitarão a perseguição pela Cruz de Cristo. 

Não é a Ortodoxia a portadora da Cruz de Cristo neste mundo?

No entanto, sempre haverá santos neste mundo. Pois os santos, com sua fé viva, ascetismo, oração pura e sua vitória sobre os demônios imundos, santificam não apenas o lugar onde eles habitam em ascetismo, mas o mundo inteiro, que recebe também os raios da Graça que operam dentro deles. É por isso que o julgamento deste mundo atual não virá enquanto houver um número suficiente de verdadeiros santos Ortodoxos, como um fermento sagrado para este mundo miserável. Os santos Ortodoxos são a base da existência contínua do mundo. Esses santos se tornarão pouquíssimos com o passar do tempo em sua direção para o fim, embora possam ser mais radiantes na era da grande apostasia.



Abouna Gregorios


*NdoT:

Eros divino: O amor a Deus é de importância central na vida Ortodoxa. Quem ama a Deus, ama o próximo através do amor de Deus. Os Santos Padres referem-se a este amor como "eros" e, para o distinguir de todo falso eros, falam de "eros divino".

Nas palavras de São Paísios: “Eros divino pode amolecer até os ossos mais duros, a ponto de uma pessoa não conseguir mais ficar em pé, e então eles caem! Eles se parecem com uma vela de cera em um ambiente quente, que não pode manter-se em pé com firmeza. Cai para um lado, depois cai para o outro lado, alguém endireita, mas de novo ela dobra, e de novo cai, por causa do calor do ambiente, que é quente demais para ela aguentar. Quando uma pessoa está em tal estado e precisa ir a algum lugar ou fazer algo, ela não pode. Eles vão realmente lutar para sair desse estado

...

Você não viu como as pessoas que se amam são totalmente alheias? Eles mal conseguem dormir. Certa vez, um monge me disse: “Ancião, um irmão meu se apaixonou por uma cigana e não consegue dormir por causa dela. Ele fica repetindo o nome dela, sem parar: 'Minha doce Paraskevi, minha doce Pareskevi', ele diria. Ele está talvez enfeitiçado? Não sei! Há tantos anos sou monge e nem mesmo eu sinto tanto amor pela Panagia como meu irmão sente por aquela cigana! Eu não sinto meu coração pulando assim! ”

 

Infelizmente, existem pessoas que se escandalizam com o termo “eros divino”. Eles não perceberam o que "eros divino" significa, e estão tentando remover este termo do Menaion e do Parakliti (Ndot:  um livro de hinos para todos os dias da semana, sábado à noite até a manhã do sábado seguinte, nos Oito Modos / Tons, com base nas comemorações do dia), porque eles afirmam que escandaliza. A que ponto chegaram as coisas! Pelo contrário, se você falar a pessoas seculares, que experimentaram eros mundano, sobre eros divino, elas imediatamente dirão: "Isso deve ser algo muito superior." Tantos jovens experimentaram o eros mundano, que quando lhes mencionei o eros divino, eles puderam fazer a comparação mentalmente! Eu lhes pergunto: "Você já perdeu o equilíbrio ou não conseguiu fazer nada por causa do amor que sentia por alguém?" Eles então compreendem imediatamente como este deve ser um estado realmente superior, e nós nos entendemos perfeitamente depois disso e somos capazes de nos comunicar. Eles geralmente respondem com: "Se nos sentimos assim com eros mundano, imagine como deve ser esse sentimento celestial!"

 

P: Ancião, como alguém pode enlouquecer por amor a Deus?

Bem, fazendo companhia a outros malucos, que te contagiarão com sua loucura espiritual! Rezarei para que um dia o veja como um completo louco por Deus! Amém! (Counsels of Elder Paisios of the Holy Mountain, vol.5, pp. 205-206)

 

Tradução: Diácono Paísios