ícone de São José de Damasco, escrito pelo iconógrafo e padre Damaskinos(Abdullah)
Por Arquimandrita Touma Bittar
Seu nome era José, filho de George Moses, filho de Mouhana Al-Haddad, conhecido como padre José Mouhana Al-Haddad. Geralmente, ele gostava de se apresentar como uma pessoa cuja origem era Beirute, sua terra natal Damasco, e sua fé Ortodoxa. Seu pai deixou Beirute no último quarto do século XVIII, estabelecendo-se em Damasco; lá ele trabalhou com tecelagem, casou e gerou três filhos: Moisés, Abraão e José. A origem de sua família remonta aos ghassânidas; seus ancestrais se mudaram para a vila libanesa de Al-Firzul no século XVI, e dali para Biskinta, no monte Líbano, depois para Beirute.
Seus
biógrafos descrevem José como um padre de tamanho médio, de pele branca,
aparência digna, testa grande, olhos perspicazes e barba espessa, na qual os
cabelos grisalhos espalhavam suas linhas, até se parecer com os raios do sol ao
amanhecer.
Ele
nasceu em maio de 1793, em uma família pobre, mas piedosa. Em tenra idade,
ele obteve alguma educação, por isso se familiarizou com o árabe e com o grego. Incapaz de pagar as mensalidades, seu pai decidiu interromper
sua educação em favor de colocá-lo para trabalhar na indústria da seda. Seu desejo de conhecimento, no entanto, não foi saciado pela
pobreza e pela miséria, então ele decidiu encontrar uma solução. Ele começou a trabalhar o dia inteiro e a ensinar a si
próprio à noite; a necessidade criou uma
pessoa feita por si mesma. Muito
provavelmente, seu irmão mais velho, Moisés, que era um escritor instruído e
uma pessoa versada na língua árabe, o motivou a ter um desejo tão grande de
conhecimento. Moisés tinha uma pequena
biblioteca em casa, na qual José embarcou nos estudos, mas, infelizmente,
Moisés partiu desta vida aos vinte e cinco anos; diz-se que ele morreu porque se esforçou demais nos estudos. Essa provação teve um impacto ambivalente nos pais de José, no
que se refere ao desejo de José pelos livros. A tocha do conhecimento, no entanto, continuou a arder no
coração de José.
Com
14 anos, o jovem começou a ler os livros de seu irmão, mas ficou frustrado
porque conseguiu compreender pouco do que estava lendo. Sem sucesso,
ele não ficou desanimado, e sua determinação aumentou tremendamente. Sua pergunta era: “O autor desses livros não era um ser
humano como eu; por que eu não os
compreendo? Eu deveria entender o
significado deles.
Depois,
estudou com um ancião muçulmano de Damasco, Mouhamad Al-Attar, que foi um dos
maiores estudiosos de sua época; ele aprendeu com ele árabe, lógica, a arte do debate e o
raciocínio correto. Ele interrompeu seus
estudos, no entanto, porque as mensalidades e o custo dos livros
sobrecarregaram seu pai; ele foi obrigado a
voltar ao seu antigo estilo de vida; trabalhando
o dia inteiro e aprendendo sozinho à noite.
Nesse
ponto, é importante mencionar que o estudo estava associado à espiritualidade e
à teologia. Não
devemos esquecer que a Bíblia era o livro mais importante.
José
dedicou suas noites, de todo o coração, a estudar a Torá, os Salmos e o Novo
Testamento, comparando o texto grego da Septuaginta com a tradução árabe, até
que ele adquiriu domínio na tradução do grego. Seu
conhecimento não se limitava à língua grega, mas ele foi capaz de memorizar uma
porção maior da Bíblia.
Ele
persistiu em aproveitar, com grande desejo, todas as oportunidades para obter
mais educação. José
estudou teologia e história sob o maître George Shahadeh Sabagh. Ele então começou a ensinar em sua casa e aprendeu hebraico
com um de seus estudantes judeus.
Seu
esforço tenaz acendeu o medo de seus pais, então eles tentaram dissuadi-lo de
aprender e ensinar, por medo de que ele pudesse enfrentar o mesmo destino de
seu irmão. Sem
sucesso em seus esforços, eles tentaram outra solução. Deram-lhe em casamento uma jovem damascena cujo nome era
Mariam Al-Kourshi, enquanto ele ainda tinha dezenove anos de idade (1812). O casamento, no entanto, não o afastou de sua busca pelo
conhecimento; sua biografia nos diz que,
mesmo na noite de seu casamento, ele persistiu na leitura e no aprendizado.
Ao
tomar consciência de sua reputação honrosa, a paróquia de Damasco solicitou ao
Patriarca Serafim (1813-1823) que o ordenasse como seu pastor. Visto que o
Patriarca tinha grande admiração por ele, ele o ordenou diácono, depois
sacerdote, dentro de uma semana, enquanto ainda tinha 24 anos (1817). Quando seu sucessor, o patriarca Methodios (1824-1850), se
familiarizou com seu fervor, piedade, conhecimento e intrepidez, ele o elevou a
protopresbítero e lhe deu o título: Grande Oikonomos.
Tendo
grande interesse em pregar por muitos anos no púlpito da Catedral Patriarcal
(Al-Mariamieh), ele alcançou um excelente resultado em sua pregação. Algumas pessoas
o consideravam o sucessor de Crisóstomo.
Naaman
Kasatly o elogiou em seu livro The Luxuriant Garden como um “pregador
criativo”. No
final do século XIX, ou seja, trinta e nove anos após sua morte, Amin Kairala
mencionou em seu livro O odor perfumado, que os idosos ainda
estavam reiterando alguns de seus sermões.
O
eco de seus sermões ainda reverberava até o início do século XX; Habib Al-zaiat,
um escritor melkita (NdoT, cismáticos unidos ao Vaticano, não tendo ligação com
o termo “melkite”, que historicamente era utilizando para designar os árabes
Ortodoxos), mencionou que ele era conhecido entre os árabes Ortodoxos por seu
conhecimento e pregação.
Nos
seus sermões, ele se distinguia por suas provas e por suas respostas
convincentes e irrefutáveis. Segundo Issa Iskander Al-Maloouf, ele tinha “uma voz que
podia ser ouvida à distância”. As pessoas
costumavam ouvir suas palavras com desejo e prazer, seguiam seus conselhos e
guardavam seus mandamentos.
Junto
com seus sermões, ele foi diligente em confortar os corações partidos, em
consolar os aflitos, em ajudar os necessitados e em fortalecer os fracos. Em 1848, quando
a febre amarela se espalhou em Damasco, o padre José manifestou um grande
fervor em ministrar aos doentes e em enterrar os mortos, sem se incomodar com a
possibilidade de pegar essa febre infecciosa, porque tinha profunda fé em Deus. Embora ele tenha perdido um de seus filhos por essa doença
contagiosa, ele era incansável no cumprimento de seu dever pastoral. Seu fervor, firmeza e compaixão aumentaram. Ele era altamente respeitado pelo povo damasceno; estavam nele a imagem de São Paulo, que dizia: “De todos os lados somos pressionados,
mas não desanimados; ficamos perplexos, mas não desesperados; somos perseguidos,
mas não abandonados; abatidos, mas não destruídos.
Trazemos sempre em nosso corpo o morrer de Jesus, para que a vida de Jesus também seja revelada em nosso corpo”(2 Cor. 4: 8-10).
Trazemos sempre em nosso corpo o morrer de Jesus, para que a vida de Jesus também seja revelada em nosso corpo”(2 Cor. 4: 8-10).
Entre
seus múltiplos esforços, ele conseguiu afastar o povo de muitas tradições
não-ortodoxas que perduravam em noivados, casamentos e funerais. Como ele era
competente na edificação de almas, ele era competente na edificação de igrejas. Em 1845, ele restaurou a igreja de São Nicolau, que ficava ao
lado da catedral patriarcal, embora tenha sido consumida pelo fogo durante os
horríveis eventos de 1860.
Não
sabemos exatamente quem estabeleceu a escola patriarcal em Damasco, nem quando
ela foi estabelecida. Confirma-se que a escola se tornou tão associada, no século
XIX, com o nome de Padre José, até que ficou conhecida como sua escola.
Quando
ele assumiu o comando da escola, em 1836, reuniu os alunos com seus próprios discípulos. Em seguida, ele
não poupou esforços para desenvolvê-la, nomeando um conselho de administração e
dando aos professores salários regulares, até atrair estudantes de toda
Síria e Líbano.
Síria e Líbano.
A
preocupação do padre José era educar as mentes dos jovens Ortodoxos e “prepará-los
para o sacerdócio e para o serviço ao rebanho de uma maneira útil”. As despesas
de educação foram cobertas pelos fiéis e pelo patriarcado.
Sua
visão era de que aumentasse o interesse nos estudos teológicos. Em 1852,
durante o patriarcado de Hierotheos (1850-1885), o padre José tomou a
iniciativa de abrir um departamento de estudos teológicos, esforçando-se por
elevá-lo ao nível de outros seminários teológicos no mundo Ortodoxo. Doze alunos estavam matriculados e todos se tornaram bispos
na Igreja. Seu martírio em 1860, no
entanto, pôs fim ao seu sonho, que visava estabelecer o departamento sobre
bases sólidas.
Ele
soprou em seus alunos o espírito de paz e sucesso, que pode ser encontrado
entre os santos, até que esse espírito divino se espalhou como uma corrente
além de seus alunos e graduados, para alcançar todos os conhecidos, colegas e
amigos. Assim,
seu ensino se espalhou e sua educação produziu o fruto da justiça.
Menciona-se
que o Padre José foi por um período um dos professores do Seminário de
Balamand, entre 1833 e 1840.
Uma
das principais características deste protopresbítero e professor era sua
pobreza. Algumas
fontes mencionam que seu ministério na Igreja não era remunerado. Um dos estudantes russos disse que ele não tinha renda com o
ensino escolar; ele costumava ganhar a vida
com o trabalho de seus filhos. O dinheiro
nunca o tentou.
Por
causa de sua reputação intacta, Cirilo II, Patriarca de Jerusalém (1845-1872),
pediu que ele ensinasse árabe na escola clerical de Jerusalém (Al-Mousalabah). Quando ele
recusou, o Patriarca ofereceu a ele um salário tentador, vinte e cinco libras,
além de um apartamento e salários sacerdotais. Ele recusou, apesar de sua necessidade. Ele disse que “fui chamado para servir a paróquia em Damasco; Quem me chamou me satisfará. ”
Ele
era um verdadeiro adorador, fervoroso em sua fé, extremamente paciente, justo,
manso, bastante humilde, compassivo e uma pessoa amigável; ele odiava
falar de si mesmo, sentia-se envergonhado pelos elogios dos outros, sem saber
como respondê-los.
Ele
era sábio e paciente em seu cuidado pastoral; costumava confundir os estudantes
falando sua língua e convencia as pessoas simples usando sua língua. Quando algumas
pessoas simplórias deixaram a Igreja por um motivo insignificante, o Patriarca
Metódio pediu que ele as trouxesse de volta. Depois de conhecê-los, ele não manifestou ressentimento pelo
comportamento deles, mas os tratou com bondade, dando-lhes alguns pequenos
ícones; eles voltaram arrependidos depois
que ele tocou seus corações.
Como
estudioso, ele era o professor entre os professores, a estrela do Oriente e um
intelectual trabalhador. Muitos contemporâneos não-Ortodoxos testemunham que ele foi
um dos grandes estudiosos cristãos de sua época. “Na Igreja Ortodoxa, ele era uma pessoa muito distinta em seu
conhecimento; não havia ninguém como ele,
exceto George Liam.”.Como clérigo, ele era considerado um grande teólogo, um
orgulho da Ortodoxia, um hieromártir e um exemplo de justiça e piedade.
Essas
são as características do protopresbítero José, o Damasceno: ele fazia parte do
povo de Deus.
Não
temos conhecimento do tamanho de sua biblioteca, porque ela explodiu em chamas
ou foi saqueada durante as calamidades de 1860, quando ele recebeu a coroa do
martírio. Seu
sobrinho, José Abraham Al-Haddad, mencionou que o padre José possuía cerca de
1.827 livros (ou provavelmente 2.827 livros) no ano de 1840.
Seus
escritos eram numerosos. Ele comparou o livro dos Salmos, o Breviário, o Liturgikon e
o livro de Epístolas, ao grego original. Ele
traduziu para o árabe o livro catequético de Epístolas do grego original. Ele traduziu para o árabe o livro catequético de Philareto,
metropolita de Moscou. Ao copiar os
manuscritos, ele costumava compará-los com outros manuscritos e corrigi-los; suas versões eram precisas como “a moeda de prata não
forjada”. Ele editou a tradução do diácono Abdallah Al-Fedal Al-Antaki do livro
de São Basílio sobre o Gênesis, bem como trinta sermões de São Gregório, o
Teólogo. Com o seguinte colofão, ele costumava terminar os
manuscritos: “Este livro foi copiado de um manuscrito antigo e comparado a ele completamente.
” E com o selo e a assinatura, ele costumava imprimi-lo. Todos os escritórios de impressão Ortodoxos, como São Jorge
em Beirute, o Santo Sepulcro em Jerusalém, as gráficas árabes na Rússia, contavam
com o padre José na edição, comparação e revisão de livros. Em teologia, literatura e bolsas de estudos, seu selo era um
selo de confiança. Ao traduzir do grego
para o árabe e do árabe para o grego, ele juntou esforços com Yanni
Papadopoulos. Ele fez uma grande
contribuição na edição da tradução da Bíblia para o árabe, conhecida como
Edição de Londres. Todos os rascunhos,
preparados pelos sr. Fares Al-Shidiak e sr. Lee, tiveram que ser corrigidos
pelo padre José, comparando-os com os idiomas grego e hebraico.
Em
sua contribuição literária, ele mostrou em sua energética fidelidade e
correção; sua
queixa sempre foi a má leitura das gráficas. Não temos conhecimento sobre seus próprios escritos, exceto
alguns artigos. Aparentemente, ele não se
considerava digno de acompanhar os grandes Padres da Igreja. Ele se limitou a traduzir, editar e apresentar seus escritos
aos fiéis como uma herança pura, intacta e sem mácula.
Durante
a época do padre José, o problema de lidar com os melquitas (NdoT que faziam
parte da Igreja Ortodoxa até recentemente, até cismarem e seguirem o Vaticano)
foram os impedimentos mais difíceis e mais dolorosos que os filhos da fé Ortodoxa
enfrentaram. Naquela
época, todos os esforços foram direcionados para levar os cismáticos de volta à
Igreja. Ao lidar com esta questão, alguns
seguiram o caminho da pressão política e administrativa, outros seguiram o
caminho para chegar a um acordo mútuo. O
padre José pertence ao segundo grupo.
Ele
odiava a violência e não admitia ter conexões com o Império Otomano para
derrubar e oprimir os melquitas. Este, para ele, era um estilo não lucrativo; fortalecia a
separação e enfraquecia a unidade.
A
medida de seu sucesso nisso é desconhecida para nós, mas o que aconteceu em
1857 e nos anos seguintes mostra que sua visão era mais correta que outras. Naquele ano,
quando o patriarca melquita Clemente forçou o calendário ocidental sobre sua
igreja, muitos se ofenderam com esse procedimento e decidiram voltar à Igreja
mãe. Um grupo deles, sob a liderança de
Shibli Al-Demashki, George Anjouri, José Fouraeig, Moses Al-Bahri, Sarkis
Dibanah e Peter Al-Jahel, contatou o Padre José, que os abraçou, fortaleceu-os
e esforçou-se para esclarecê-los por três anos anos consecutivos. Ele prefaciou um livro escrito por Shibli Al-Demashki sobre
os protestos deste grupo. O título do livro
era Christian Law is Far Above The Astrological Considerations ; foi impresso na editora do Santo Sepulcro em 1858. O tamanho
do grupo começou a crescer rapidamente, até se dizer que, se o martírio do
padre José não tivesse ocorrido durante o massacre de 1860, ele teria
conseguido trazer devolver o resto dos melquitas à fé Ortodoxa.
O
padre José teve mais de um confronto com protestantes. Os mais importantes
foram nas cidades de Hasbaia e Rashaia, depois na cidade de Damasco.
Na
cidade de Hasbaia, os missionários protestantes americanos tiveram um grande
sucesso através da escola que haviam estabelecido naquela cidade. Mais de cento e
cinquenta pessoas se converteram ao protestantismo, como resultado do conflito
entre o povo Ortodoxo nessas duas cidades. Como
um enviado do Patriarca Methodios, o padre José conseguiu trazer de volta
algumas das ovelhas que estavam dispersas, de volta para o rebanho Ortodoxo. Depois que ele refutou os missionários várias vezes,
conseguiu contê-los.
Em
Damasco, ele se esforçou em seu cuidado pastoral, pregando e guiando seu povo
para a iluminação e fortalecendo-o contra as seitas e heresias em circulação. É mencionado
que um missionário inglês, Grame, costumava encontrar o padre José e discutir
questões bíblicas com ele. Percebendo que
este missionário estava pervertendo as respostas dadas pelo Padre José nas
perguntas feitas, ele pediu que ele enviasse as perguntas por escrito. No começo, eles pensaram que o haviam refutado, depois que
ele deixou de responder. Quando eles apareceram
no começo da Grande Quaresma, ele respondeu todas as perguntas com precisão,
até que eles voltaram maravilhados com a correção de seus conhecimentos e
pesquisas. Dizem que, como consequência
desse incidente, eles terminaram sua campanha missionária na congregação Ortodoxa; suas perguntas eram para investigação e não para debate.
Sem
dúvida, o padre José foi, no século XIX, o maior homem do renascimento da
Igreja Antioquina. Naquele
tempo, Antioquia estava em uma situação terrível. O cisma dos melkitas [em 1724] levou a repercussões muito
críticas em diferentes níveis, especialmente no nível pastoral. Os missionários protestantes eram muito ativos e agressivos,
enquanto a Igreja era impotente e fraca, ignorante e pobre. A partir de 1724, os hierarcas [ortodoxos] eram estranhos à
terra e à luta de seu povo. Antioquia vivia
sob custódia, sob o pretexto de que ela se desintegraria gradualmente e se
tornaria católica. Em “nome da Ortodoxia”,
Constantinopla e Jerusalém distribuíram entre si a autoridade de nomear bispos
antioquinos, tentando determinar seu destino. Naquela época, não havia padres competentes nem assistência
pastoral. A Igreja Antioquia poderia ser
descrita como um navio atingido por ondas e pronto para afundar.
No
meio desses desafios e perigos, o padre José floresceu como um novo ramo
divino, tendo um grande fervor em relação a Deus e à Igreja de Cristo na terra.
Então,
o renascimento começou.
A
vida, o fervor, a piedade, a pobreza, o amor pelo conhecimento, o cuidado
pastoral persistente, a pregação, a orientação, os escritos, as traduções, a
escola e a vigilância criaram uma atmosfera revivalista, motivaram os
espíritos, emocionaram os corações e fortaleceram a determinação. Uma nova
geração, um novo pensamento e uma nova direção floresceram. "Os ossos se juntaram, osso a osso ... e o fôlego entrou
neles, e eles viveram" (Ezequiel 37: 7-10).
Mais
de cinquenta líderes da Igreja estudaram sob ele e ficaram tão vigilantes
quanto ele: Patriarca Meletios Al-Doumani (+1906), primeiro patriarca local
desde 1724; Gabriel
Shatila, metropolitano de Beirute e Líbano (+1901); o grande estudioso Garasimos Yared (1899), Metropolita de
Zahle, Saidnaia e Maloula; e seus alunos
eram mais de dez bispos, bem como um grande número de padres, entre eles o
arquimandrita Athanasius Kaseer (1863), fundador do seminário de Balamand; Padre Speredon Sarouf (+1858), reitor da escola clerical em
Jerusalém e editor das publicações do Santo Sepulcro; Arcipreste John Doumai (+1904), fundador da editora árabe em
Damasco; além de alguns leigos de renome,
como Dimtiri Shahadeh, um pilar do renascimento; Michael Klaila, administrador das escolas patriarcais em
Damasco; e Dr.
Michael Mashakah (+1888).
O
que ele ansiava foi realizado durante sua vida e após sua morte; muitas vezes
ele repetia: "Plantei a semente na verdadeira vinha de Cristo e estou
aguardando a colheita".
Tudo
isso pode ser explicado na declaração do metropolita Gabriel Shatila: "As
estrelas de Damasco são três: o apóstolo Paulo, João de Damasco e José Mouhana
Al-Haddad".
Sua
vida deve ser coroada com um final igual à sua piedade e grande amor, no qual
ele glorificaria a Deus através de seu martírio.
Em
9 de julho de 1860, quando o massacre em Damasco começou, muitos cristãos se
refugiaram na Catedral Patriarcal (Al-Mariamieh); alguns vieram
das cidades libanesas de Hasbaia e Rashaia, onde o massacre começou e onde a
matança ocorreu. Outros vieram das aldeias
ao redor de Damasco.
Seguindo
a tradição dos padres em Damasco, o padre José costumava manter um kit de
comunhão em sua casa. Durante o massacre de 1860, ele escondeu o kit de comunhão
debaixo das mangas e pulou de um telhado a outro em direção à catedral. Ele passou a noite inteira fortalecendo e encorajando os
cristãos a enfrentar a situação, pois os agressores podem matar o corpo, mas
não podem matar a alma (Mateus 10:28); as
coroas de glória foram preparadas para aqueles que se comprometeram com Deus
através de Jesus Cristo. Ao relacionar com
eles o martírio de alguns santos, ele os chamou para imitar sua vida.
Na
manhã de terça-feira, 10 de julho, os perseguidores atacaram violentamente a
Catedral, roubando, matando e queimando tudo. Muitos mártires
foram massacrados, outros saíram às ruas e becos; um deles era o padre José. Enquanto caminhava pelas ruas, um estudante religioso, que
era um dos agressores, reconheceu José, porque este o havia refutado em um
debate entre eles. Ao vê-lo, ele gritou:
“Este é o líder dos cristãos. Se o
matarmos, matamos todos os cristãos! ” Quando ouviu essas palavras, o padre
José sabia que seu fim havia chegado; ele
tirou seu kit de comunhão e participou do Corpo e Sangue de Jesus Cristo. Os perseguidores o atacaram com suas machadinhas, como se
fossem lenhadores, e desfiguraram seu corpo. Amarrando suas pernas com cordas, eles o arrastaram pelas
ruas até que ele foi despedaçado.
Embora
ele tenha morrido como mártir, sua vida, sua vigilância e seus sofrimentos
foram testemunhas de sua santidade. Ao “tornar-se como Ele em Sua morte” (Filipenses 3:10), ele
foi coroado com Sua glória. Ele se tornou
um exemplo a ser imitado, uma bênção a ser adquirida e um intercessor de nosso
Senhor e Salvador Jesus Cristo, glorificando a Ele para sempre. Amém.
notas:
[1]: O massacre de Damasco
ocorreu em 1860, quando drusos e muçulmanos destruíram parte da cidade antiga
de Damasco e mataram mais de 11.000 cristãos Ortodoxos e católicos melkitas,
que se refugiaram nas igrejas e mosteiros de Bab Tuma ("Portão de São
Tomás")
Tradução: Hipodiácono Paísios