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Sobre os Escândalos na Igreja e a ausência de jovens - Metropolita Augustinos de Florina

 


 

 



 

Sobre os Escândalos na Igreja e a ausência de jovens.

por Metropolita Augustinos de Florina (+28 de agosto de 2010 )


A triste situação da Igreja hoje é uma das razões pelas quais os jovens não são atraídos pelo trabalho missionário. É preciso ser cego para não ver. Devemos lembrar tudo o que Christianitke Spitha e outras publicações da Igreja e periódicos religiosos escreveram na última década? Como nossos jovens podem ser atraídos para servir a Igreja quando eles vêem - infelizmente, caros padres, eles têm olhos e veem - pessoas espertas e vis, que não oferecem nenhum serviço essencial à Igreja ou comunidade, que pelos meios mais malignos conseguem saltar no rebanho e ascender aos postos mais altos, afastando os fiéis e os mais talentosos? Ou quando eles veem que tais pessoas, tendo o controle do governo da Igreja em suas mãos, em nossa pátria democrática, exercem autoridade quase absoluta e tratam os cristãos como bestas irracionais? Ou quando eles veem que fiéis, homens e mulheres, são malvistos, mas parentes lisonjeiros e mundanos cercam o bispo e compõem o seleto staff de sua Metrópole (Arquidiocese)? Ou quando veem que uma viagem arquiepiscopal colhe uma ceifa de ouro? Ou quando veem que as fileiras da Igreja, vindas das famílias mais pobres, são transportadas em reluzentes limusines, que até mesmo estadistas e generais invejam? Ou quando veem que o luxo reina em certos palácios Metropolitanos, nos quais os magnatas são bem-vindos e ficam maravilhados com a vida dos governantes eclesiásticos? Ou quando eles veem no meio de Atenas apartamentos e palácios que são propriedade pessoal de bispos e seus parentes? Ou quando ouvem que irmãs e sobrinhas (dos hierarcas) recebem dotes generosos retirados de tesouros despóticos, ou que noivos de elite são comprados para elas com dinheiro sagrado? Ou quando ouvem que os Metropolitas não ficam felizes em pequenas ou pobres Arquidiocéses, mas, depois de experimentar o demônio da ganância e da vaidade, não deixam pedra sobre pedra em seus esforços para serem transferidos para palácios e sedes mais ricas, sem temer a Deus e nem envergonhados diante dos homens? Ou quando eles veem que os pregadores do Evangelho, pessoas fiéis, são perseguidos até a extinção por condenarem as práticas ilegais e não canônicas dos líderes da Igreja? Ou quando eles veem que nenhuma guerra ou batalha é travada contra os poderosos da época, que por palavras e atos anticristãos ofendem os leigos? Ou quando ouvem que escândalos de natureza moral irrompem nos salões dos Arcebispos e circulam por toda a região sem que a Igreja oficial se alarme ou se perturbe? Ou quando ouvem que bispos moribundos deixam enormes quantias em seus testamentos para seus parentes consanguíneos e outras pessoas queridas, e os herdeiros, como melros, se reúnem em torno desses testamentos miseráveis, chegando aos socos e indo ao tribunal civil para resolver suas diferenças? Minha querida Igreja, como posso expressar todos os sofrimentos que o Corpo Místico de Cristo suportou nas mãos dos maus pastores, que não entraram em seu santo rebanho pela porta, mas por outros caminhos?

 Então, quando nossos jovens testemunham, com seus olhos e ouvidos, a desordem e miséria reinantes dentro da Igreja, como você espera que eles sejam atraídos pelos ideais missionários e tomem a decisão de servir à Igreja com extrema abnegação? Não há jovens educados, com altos interesses na vida (da Igreja) hoje, porque não há modelos, nenhum exemplo heroico entre nossos padres. A juventude é atraída por heróis; ele adora seus heróis, seja qualquer a classe de vida que eles venham. Por meio de seu exemplo, um general heroico inspira os oficiais e soldados sob seu comando, e os leva à vitória, glória e honra. Por outro lado, um general covarde pode decepcionar até os homens mais bravos e criar um espírito de derrotismo, levando à derrota vergonhosa. Um leão pode levar o cervo à vitória, mas um cervo comandando os leões leva-os à derrota. Portanto, quando as ordens cristãs estão desprovidas de líderes que estejam à altura da tarefa da missão sagrada, nada grande ou elevado pode ser realizado. A missão vai vegetar.

 Como a história da Igreja testemunha, os bispos e padres santos têm um cortejo de jovens (que os seguem) com anseios de santidade, que estão ansiosos para se empenhar pelo trabalho missionário. Por outro lado, os bispos ruins não atraem esses jovens. Gente miserável se reúne em torno do eixo da autoridade episcopal de maus pastores, prontos para assumir ricas paróquias. Seus objetivos são os tronos episcopais, que eles se esforçam por alcançar por vaidade e ganância, cópias fiéis dos bispos acima deles. Enquanto destroem honrados trabalhadores do Evangelho, eles atulham seus favoritos com cruzes e trajes monásticos e os chamam de missionários, em cujas mãos colocam a pregação e a catequese. Lobos pastoreando os leigos! Não é de se admirar que tenha havido um colapso na pregação, na instrução religiosa e na confissão na Grécia. "Esta é a acusação contra os líderes dos judeus", disse São João Crisóstomo, "de que os pastores realmente eram lobos. Eles não apenas não dirigiram as massas, mas arruinaram sua capacidade de fazê-lo" (Homilia 32 sobre Mateus Patristica Migne 57: 379). Portanto, a catarse dos salões arquiepiscopais de todos seus elementos vis - dos vendedores de Deus e vendedores de Cristo em trajes de pastores apostólicos – é, e deve ser, o dever mais sério de todo honrado trabalhador da Igreja, todo fiel que, de acordo com São Gregório de Nazianzo, é um seguidor e imitador de Cristo, guiado por toda a Sua geração, da manjedoura ao Gólgota. Este fiel também é chamado para receber o chicote de três pontas e perseguir os cambistas do Templo. Que todos entendam isso. Sem limpar a Igreja, sem o vento limpo e agitado do Espírito Santo, não pode haver razão séria para a missão, aqui ou no exterior. É uma piada pensar que por meios técnicos, por decretos e regulamentos, podemos criar uma vida espiritual e transformar cada bispado em um cenáculo em Jerusalém, de onde saem homens de fogo para a edificação espiritual do mundo ....

Uma última razão pela qual as fileiras de jovens, exceto em poucos centros missionários, não são sustentadas por um influxo de novos membros é a mesma que São Crisóstomo observou em seu próprio tempo (de todos os Padres da Igreja, ele tinha a paixão mais ativa pelas missões ) A razão é esta: há rapazes e moças fiéis que poderiam oferecer muito a um movimento missionário; no entanto, essas pessoas (que são tão escassas, mas tão preciosas) não ficam no mundo e preferem lutar sob a Cruz, buscando ajudar seus pais espirituais e professores, que eles vêem gemendo por falta de auxilio. Eles vão embora. Onde eles vão? Eles vão para o deserto ou para as montanhas e buscam uma vida monástica. O brilho da luz de Tabor os atrai. Deixemos que São Crisóstomo (que também gemia sob o mesmo abandono) fale a estes seres fiéis, que puderam permanecer e ajudar na obra missionária e na salvação das almas, mesmo que deixando seus pais e mestres espirituais para levar a cabo, sozinhos, a difícil luta desta geração.

 

O apóstolo Paulo, por exemplo, foi de Jerusalém para Illyricum. Outro Apóstolo foi para a terra da Índia, outro para a terra dos africanos e outros para várias partes do mundo; ainda assim, não ousamos nos aventurar fora das fronteiras de nossa própria terra natal, procurando por luxo, boas casas e todas as outras abundâncias. Quem de nós já teve fome da palavra de Deus? Quem já empreendeu uma jornada extenuante pelo Evangelho? Quem está no deserto? Quem foi para um país longínquo? Qual de nossos professores já trabalhou para ajudar outras pessoas que estavam famintas ou sofrendo? Quem de nós morre uma morte diária? ... E ainda, se alguém pudesse ser encontrado com traços deste tipo de vida e comportamento apostólico, ele deixaria as cidades, os mercados, a companhia do mundo e seu dever de trabalhar pela salvação dos outros, ordenando suas vidas ensinando o Evangelho, e iria para as montanhas. E se alguém lhe perguntar o motivo de sua partida, ele começará a dar desculpas. Mas suas desculpas não contêm perdão. O que diria? "Para que eu também não seja destruído, para que não seja arrastado para a onda do mal, para que a minha espiritualidade e virtude não sejam diminuídas, portanto abandono o mundo e fujo para as montanhas." Porém, não seria melhor perder algo de sua espiritualidade para que outros ganhem, em vez de fugir e ver de longe os seus irmãos se perderem? Por isso pergunto: como vamos vencer os inimigos da fé e da virtude, quando diante dos que são indiferentes à virtude, os que são zelosos e preocupados fogem da multidão, longe da guerra santa que se trava no mundo?

Verdadeiramente, estas são palavras de ouro e de grande significado, pois procedem de um Pai da Igreja que, como poucos, amava a vida monástica!

*Ó jovens escolhidos, a pregação genuína do Evangelho puxou-os das profundezas do pecado para a vida espiritual. E amorosos pais e professores, por anos prepararam você para o trabalho missionário. Eles tinham preciosas esperanças em vocês, mas agora vocês estão partindo para as montanhas. Vocês saem com desculpas vazias. Vocês partem em dias difíceis, quando o Anticristo está assolando o mundo; almas são perdidas todos os dias, e seus pais e professores lutam arduamente pelo que é Sagrado e Santo. Vocês os deixam em paz. Vão, então, para o Monte Tabor e alegrem-se com seus espíritos. Mas nós lhes perguntamos: "Sua consciência está em repouso?" Antes de responder, medite uma segunda e terceira vez nas palavras de ouro de São Crisóstomo. Elas foram escritas para você! **

 

Notas finais

* Em sua Sexta Homilia sobre Efésios, São Crisóstomo enfatiza que uma das causas do afastamento da vida da Igreja é que as pessoas piedosas, dotadas de seu dom de trabalhar no mundo como missionários, fogem para as montanhas e ficam lá para sempre e, assim, deixam o palco eclesiástico livre para ser conquistado por elementos preguiçosos e insuficientes. É o que ele diz em uma passagem relacionada: "Eles, que viviam virtuosamente e que em qualquer circunstância podiam ter confiança, apoderaram-se dos cumes das montanhas e escaparam do mundo, separando-se como um inimigo e um estranho, e não de um mesmo corpo ao qual pertenciam. Pragas também, repletas de travessuras incontáveis, caíram sobre as igrejas "(Padres Nicenos e Pós-Nicenos, vol. 13, Philip Schaff, ed., Publicações Eerdmans, Grand Rapids, p. 78. Ver também, K. Kontogones, "Ekklesiastike Historia," Atenas: 1876, vol. 1, p. 480).

 

** O que escrevemos aqui não queremos ser mal interpretados. Não somos contra a vida monástica, uma antiga vocação da Igreja que ofereceu fruto resplandecente do Espírito Santo. Também escrevemos em periódicos sobre a vocaçãoo monástica e publicamos dois livros, A Pérola que Não Tem Preço e a Sagrada Convocação. Mas acreditamos que não estamos pecando ao enfatizar que a vida monástica, tal como se apresenta hoje, está em crise e precisa ser renovada para recuperar sua antiga grandeza (ver nosso livro, National Anniversary, Atenas, 1970, pp. 37-63). A vida monástica, renovada segundo os antigos protótipos, pode oferecer muito à vida da Igreja e à comunidade. É impossível não ressurgir novamente de suas entranhas, missionários que continuarão a obra de Cirilo e Metódio, de Kosmas de Aetolia, e de tantos outros monges conhecidos e desconhecidos, que para salvar almas, olharam além de seus próprios interesses espirituais e se jogaram na fornalha do mundo, e passaram por adversidades. E pelo amor flamejante pela humanidade humilde, eles retomaram o que Paulo disse: "Pois eu até desejaria ser amaldiçoado e separado de Cristo por amor de meus irmãos, os de minha raça" (Rom. 9: 3), como em outro lugar ele diz , “Ninguém busque o proveito próprio; antes cada um o que é de outrem." (I Cor. 10:24), ditado que influenciou significativamente a alma de São Kosmas de Aetolia, que deixou o mosteiro para fazer o trabalho missionário. Do hesicasmo, que ele praticou por sessenta anos, ele saiu para a atividade missionária.

 

São João Crisóstomo suspira por conta da falta de zelo missionário pela salvação das almas e clama: "Ai de mim, porque não sei quanto custa para ganhar almas" (ver Homilia 18 sobre os Atos dos Apóstolos, PG Migne 60, 149).

 

De "Follow Me", de Augustinos N. Kantiotes, Bispo de Florina, Grécia pp. 370-378.

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